sexta-feira, 8 de outubro de 2010

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Querida vovó,
não consigo conter lágrimas ao escrever algo para você, ou sobre você. Meu coração dá um nó toda vez que eu percebo que nunca mais vou te ver, te abraçar, te dar beijinhos, e fazer caretas para você rir, como quando fazia quando você estava zangada.

Sinto sua falta quando quero chorar e não consigo, quando quero contar alguma coisa sem que ninguém fale nada, só me escute. Queria poder continuar te vendo, te sentindo, ouvindo seus discos do Roberto Carlos. Amanhã completa exatamente seis meses que não a tenho mais comigo, e sempre que eu penso, sinto-me naquele dia amargo de novo, e me dá vontade de voltar no tempo, e parar nele.

Eu quero você aqui! Preciso de você aqui...

Tenho sentido a mamãe nervosa e sem chão de vez em quando, e muitas vezes eu não sei como contorná-la, como sabia naquela época. Toda terça feira é um suplício para mim por mais que eu nunca tenha contado isso à ninguém. Acordo, e me lembro. Eu daria o mundo para não tê-la visto daquele jeito.

Vó, estou perdida. Preciso de carinho, e cuidado. Preciso muito muito de você, aonde quer que você esteja. O barco está afundando cada vez mais com o passar dos dias, e eu não consigo sair de dentro dele. Será que é só o começo? Eu não quero ficar submersa.

Não consigo dizer muito, e nem quero, mas penso. Eu penso em você todos os dias. E às vezes, busco forças nesses pensamentos para me manter de pé. Seus olhos azuis ocupam meu corpo com uma saudade, que sinceramente, desconheço. Além da dor também...
Não sei como pedir, ou como dizer, mas queria você aqui.
Desculpa meu egoísmo.

Pergunto-me se você está contente aí, e torço para que sim. Prometo ficar aqui também, eu só preciso de tempo. Ainda não consegui digerir tudo o que aconteceu esse ano. Mais coisa está por vir... Entretanto, espero que de alguma forma, as coisas achem um equilíbrio. Não quero viver assim. Não só por mim, mas não há como sobreviver dessa forma. É como se estivesse sobre uma corda bamba, ou numa bicicleta de uma roda só.

Perdoe minha fraqueza, meu desejo egoísta.

Sinto sua falta, mais do que sinto de mim mesma.
Com amor e saudade,

T.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ex isto?

Mais um dia. O dia. Um dia.

Isto aqui existe? Eu existo?
Ou será que já existi e sumi?

Tenho medo de mim, dos meus sentimentos, e das minhas idéias.
Tenho uma vontade louca de ficar embaixo da chuva só olhando pra cima vendo como as gotas caem uma a uma, enquanto os tolos acreditam que caem todas juntas. Tolice.
Não consigo compreender o sentido real do que está acontecendo.
Como uma pessoa toma o lugar de outra sem nem pedir permissão para mim? Meu coração não é de vidro. Será que algum dia vão entender isso?
Que vontade de gritar pro mundo, que não há nada mais valioso no mundo do que você, que meu paraíso é você.
Dar-te a mão, e levar-te para longe disso aqui. Longe dessa gente, que finge que a gente não existe. Parar o ónibus em frente a sua escola, te pegar pra almoçar, e te levar para casa roubando um beijo infantil.
Você está tão distante de mim agora, tão inalcançável. Sinto-me num furacão sem controle, e com velocidade máxima.
Sabe, você era a melhor parte de mim, e eu... Bem, eu era toda você. Porém, agora, acho que eu sou toda ela. Toda todo mundo. Eu gosto de você, tanto como gosto dela. Eu gosto de você, mas eu gosto de tanta gente... Seria isso um impedimento?
Não posso te perder dos meus pensamentos, e nem te prender neles. Mas com o passar dos dias, e a frequência dela neles, você vai se tornando cada vez mais fugaz. Não é culpa minha, nem sua, nem dela. É culpa dessa vida escrota que eu ando levando.
Sinto saudade, sinto falta do seu perfume no travesseiro, e do seu cabelo por entre os meus dedos. Sinto você perto, e longe. Sinto desejo, mas me policio para não querer ter. Não consigo dormir. Não consigo distinguir. Não consigo me ver sem você em minha cabeça. Não sou a mesma pessoa. Desculpe-me, mas eu era alguém quando você estava aqui, mas o abandonar-te involuntário obriga-me a ser outra pessoa por ela estar no seu lugar. Não no seu lugar, mas aqui.
Contudo, tenho certeza de que muita coisa ficou, e que vou levar para o resto da minha vida. Você não estava errada, nem eu certa. Nós éramos mais, ou menos. Nós éramos a exceção do mundo que vivíamos.
E tudo o que eu sempre quis saber foi até quando nosso mundo duraria.

Creio que achei a resposta...